EL MONOPOLIO DE LA ESTUPIDEZ

O outro como um número

Exibido na Mostra Latino-Americana 4, “El Monopolio de la Estupidez” nos transporta para a burocracia e a desumanização que vêm afetando tão fortemente nossas relações atuais, principalmente em ambientes que lidam com processos e dinheiro. Após a morte do pai, o protagonista tenta conseguir documentos que autorizem acesso às contas do falecido e, logo, conseguir realizar seu enterro.

A boa direção de Hernán Velit traz um ritmo mecânico ao filme, colocando o espectador numa posição de espera, quase que um verdadeiro tédio, ao realizar as ações que se repetem. Somos obrigados a acompanhar a personagem nas filas e a ouvir todos os processos burocráticos necessários para se conseguir a documentação.

Impossível não se identificar com o que ocorre ali. Na vida real, as filas se constroem quase que automaticamente, seja nos bancos, nos supermercados, nas lojas, no transporte. Estamos acostumados a nos colocar neste posto.

A tentativa se de garantir uma ordem que reflete em nossos corpos, quando cedemos às formas de organização estrutural, coloca em questão os limites disso dentro da sociedade, quando passamos a tratar o outro como um número, uma coisa a ser resolvida. Retiramos a sua individualidade e a complexidade dos processos que levaram aos fatos.

E, ao unificar o tratamento desses fatos resumindo tudo a papeis, assinaturas e espera, em que a falta de um único documento resulta na volta ao fim da fila, construímos um tipo de relação que nos afasta um dos outros e mecaniza os sentimentos.

A morte é algo recorrente e certa. O filme busca a reflexão dos limites da burocracia e a dependência dela para se garantir os mínimos direitos de um ser humano. Numa cena em que o protagonista, mesmo já sabendo das regras, tem de obrigatoriamente ouvir a atendente repetir o processo, percebemos que não há mais uma escuta pessoal, tudo virou “parte do processo”.

É essa mecanização das ações humanas que nos afastam da realidade que está a nossa volta. Hernán Velit é certeiro e produz um filme que, em sua montagem e roteiro, consegue recriar a sensação física e um incômodo no espectador que traduz a própria ideia.

(Luiz Gonzaga de Souza)

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