O AMOR NÃO É O BASTANTE – Corpo Celeste, de Renata Paschoal e André Sobral
por Hannah Sloboda
Corpo Celeste traz em seus 15 minutos todo o potente rebuliço sentimental do reencontro de uma relação amorosa que foi abruptamente interrompida. Com seu viés de cinema de guerrilha, o curta é direto no argumento, que toma dois terços de duração do filme. O que dizer, sentir e esperar da pessoa amada em um encontro furtivo de dez minutos com dez anos de separação? André Sobral e Renata Paschoal exploram o reencontro distanciado de um casal onde amar já não é mais o bastante para se estar junto.
A câmera de Letícia (Maria Ribeiro) é tida como uma personagem de várias faces, ansiando por quem será o próximo espectador. A protagonista explora a sensualidade através da sonoplastia com suas falas sussurradas, e paralelamente consumida em imagem por meio dos planos fechados. Porém, por trás da personagem sexual de Letícia há uma mulher comum e calejada pela vida. Isso fica claro por meio da montagem de choque que mescla imagens vibrantes da camgirl em seu show com inserts da vida cotidiana desbotada. Durante a contagem regressiva de dez segundos, a montagem tangibiliza o basta, a saturação acumulada de Letícia.
Porém, o surgimento de um novo e misterioso espectador quebra o modus operandi da protagonista. Sem revelar a sua imagem, o observador se comunica na esperança de ter a tão almejada identificação. Fernando (Fernando Alves Pinto) quebra a quarta parede e traz consigo os lamentos do abandono e do trauma do tempo. Letícia, tal qual a camgirl de Wim Wenders (Paris,Texas, 1984) finge a frieza e distância como escudo emocional da calejada vida.
O ressurgimento do passado na ânsia de um futuro, numa relação onde amar não é mais o suficiente. Corpo Celeste é uma pílula emocional para os amantes com relações frustradas pelo tempo.