O FANTASMA SEDUTOR DO PASSADO – Bablinga, de Fabien Dao (Burkina Faso, França)

por Pedro Reis Guimarães Rosa

Lembranças não são um tema novo no cinema. Do cinema clássico americano às obras de Fellini, o anseio por momentos do passado foi transcrito imageticamente por uma grande variedade de autores inseridos em diversas culturas e movimentos. Em seu curta Bablinga, o diretor Fabien Dao explora o tema sob a ótica de um emigrante de Burkina Faso que sai de seu país para abrir um negócio na França, deixando para trás seu estabelecimento anterior, o bar Bablinga.

O curta inicia sua narrativa antes de um suposto retorno do relutante protagonista Moktar, que, nostálgico, rememora seus dias no bar que abandonou. É a partir daqui que a direção e a fotografia, num impressionante trabalho de iluminação, começam a brilhar, capturando visualmente a essência da memória afetiva. Viajamos de volta à um Bablinga idílico, imortal. O espaço literalmente narra sua história, com gravuras nas paredes que comentam sobre o personagem central e suas decisões, cercadas por pessoas sempre sorridentes, bem arrumadas, sob a luz cálida da lembrança.

Durante grande parte de sua duração, o curta explora a potência emocional da contemplação do passado, do resgate da juventude e seus anseios. No entanto, conforme se aproxima da conclusão, o tom é alterado de forma quase imperceptível. O roteiro começa a abordar a dualidade da recordação, ilustrando não só a saudade como também o medo de Moktar: o de decepcionar-se com o presente, enfrentar as consequências de suas ações, perder Bablinga – não o real mas o imaginário, preservado pela nostalgia. As ilusões, antes como que obras num museu, se mostram figuras criadas pela culpa de Moktar, signos de uma decisão que ainda o assombra. O protagonista tenta ativamente livrar-se da alucinação, apenas para perceber a imortalidade da memória.

Através de um roteiro primoroso e um forte controle da linguagem visual, Bablinga traduz naturalmente o complexo misto de emoções que compõem a relação com o passado, alternando entre a beleza da contemplação dele e o terror de reencontrá-lo.

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